Se você morresse agora, estaria satisfeito com o que fez até agora? Se você soubesse que vai morrer amanhã, o que você faria até lá? E se você descobrisse que está morto agora, quantos arrependimentos teria para amargurar?
Há mais de 15 anos, eu conheci um menino que estava na sexta série do ginásio (na época ainda nem era ensino fundamental!), eu estava na oitava série. Descobri que ele era priminho de um amigo do meu irmão. Passei cola muitas vezes para o garoto (na época os professores misturavam os alunos de várias séries diferentes na mesma sala de aula no dia da prova, para evitar colas, mas não adiantava muito, porque o pessoal mais velho costumava ser legal com os mais novos e passávamos cola pra eles mesmo sem receber nada em troca. Hoje, entrei no orkut de manhã e enquanto eu xeretava o perfil de alguns conhecidos, sem querer encontrei o menino... Meu deus! Ele já é um rapaz! Caramba, me senti tão velha... (risos)
Isso me lembra que há pouco mais de um ano, eu fui dar os parabéns, para um priminho meu no dia do aniversário dele, via orkut também. Na verdade ele é filho de uma prima minha. E quando eu escrevi: "Feliz Aniversário, primo!", ele respondeu: "Obrigado, Sá, agora já posso até ser preso!". Eu respondi em voz alta no meu quarto, lendo a mensagem dele: "NÃO! Não pode, não!". Gente! O filhinho da minha prima, de quem eu ajudei a trocar fraldas, em quem eu ajudei a dar banho quando bebê, o menininho que eu carregava no colo sob chuva na volta da pescaria, agora era um homão de 18 anos! Já está na faculdade!
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Mas brincadeiras à parte, lógico que o tempo passa para todos. E eu acredito que aproveitei muito bem cada minuto da minha vida. Quando criança eu brinquei muito, posso não ter aprendido a andar de bicicleta (risos), mas com certeza pulei muitos muros, rasguei muitas roupas, e as cicatrizes que carrego até hoje pelo meu corpo são a maior prova de que a minha infância foi muitíssimo bem aproveitada. Adolescência foi uma época conturbada, como acredito ser para a maioria das pessoas. Embora hoje em dia seja moda ser "nerd" ou "geek", mas na minha época, ser nerd era sinônimo de ser anti-social e era uma decretação de exclusão em relação à ala popular da escola. Mesmo assim, posso dizer que aproveitei ao máximo todas as crises existenciais e de popularidade que todo adolescente deve passar para um dia, na idade adulta poder bater no peito e dizer: "eu sobrevivi à adolescência!" (risos).
Dos 17 anos de idade até os 20 aninhos eu curti toda a maravilha da juventude e da solteirice! (risos) Não vou entrar em detalhes, porque hoje em dia não pega bem, já que eu tenho namorado e sou quase uma "trintona" (risos), mas eu posso dizer que naquela época eu não me preocupava nem um pouco com o que os outros falavam de mim, eu aproveitei tudo o que eu tinha para aproveitar e as únicas provas de que eu um dia fui aquela maluca desvairada são algumas fotos perdidas pelo mundo das baladas mais loucas de São Paulo, nem posso contar com as minhas lembranças nem dos meus amigos daquela época, porque acho que a gente não tinha os neurônios devidamente ajustados para sermos considerados testemunhas de qualquer coisa que acontecesse naquelas baladas malucas...
Ainda aos 20 anos, a vida levou um pedaço de mim. O meu irmão, que era a pessoa mais importante da minha vida, faleceu repentinamente quando o coração daquele japonês cabeçudo simplesmente parou de bater... Naquela época eu acordei para a realidade mais cruel e mais maravilhosa que existe: ninguém é eterno e amanhã pode não chegar até mesmo para os mais jovens. Depois de superada uma depressão que empacou um monte de coisas na minha vida, eu decidi que a vida era frágil e curta demais para eu perder tempo com preocupações desnecessárias, comecei a viver ainda mais intensamente a vida que eu já aproveitava tanto, mas que a partir daí passou a ter um valor muito maior para mim.
Meu namorado também acordou para essa realidade sobre viver o HOJE, o AGORA, curtir cada segundo e cada oportunidade que temos na vida, porque a gente nunca sabe se o amanhã vai chegar. Lógico que não precisamos ser irresponsáveis e sair fazendo besteiras, gastando dinheiro e sem pensar no futuro, correr o risco de chegarmos aos 80 anos arrependidos de não termos feito nada produtivo na vida, só termos feito besteiras... O nosso jeito de aproveitar é muito mais de dar valor às oportunidades que sorriem para a gente, nós viajamos sempre que podemos, nós nos dedicamos ao que gostamos nas nossas horas vagas, a velejar, ao mar, à construção da nossa vida futura, mas sem deixar de curtir o momento presente.
Mas tem tanta gente por aí desperdiçando a vida! Gente que fica enfurnado no escritório, trabalhando loucamente para juntar muito dinheiro para gastar na aposentadoria, que pode nem chegar... Tem ainda aqueles que não aceitam a ideia de envelhecer e parecem querer ser crianças para sempre, não amadurecem, não percebem que a vida muda e a gente tem que mudar com ela, temos que criar responsabilidades. E aqueles que gostam tanto da solteirice, que não se imaginam de jeito nenhum amarrados a uma única pessoa para o resto da vida. Mas afinal, precisam pensar que beleza e juventude passam, um dia a gravidade cumpre com o seu papel e tudo cai! (risos) Um dia, tudo murcha... E o que fica é a inteligência, o companheirismo, seus amigos estarão casados com seus respectivos companheiros (as) e você estará sozinho(a) se não acordar para a realidade de que todo mundo precisa de alguém para se fixar um dia.
Eu sei que é preciso coragem para aproveitar verdadeiramente a vida... E eu não estou falando sobre saltar de paraquedas ou bungee jumping, eu estou falando é de escolhas! É preciso ter muita coragem para fazer escolhas, para se arriscar a fazer as escolhas erradas, mas mesmo assim, não deixar de escolher um caminho. O meu namorado sempre diz que é melhor errar do que nem tentar. E é por isso que a gente é tão feliz, por isso que conseguimos aproveitar tão bem as nossas vidas, porque nós temos essa coragem. Nós escolhemos um ao outro há mais de 6 anos, nós escolhemos nossas profissões, nós escolhemos o que fazer com as nossas vidas e tem dado certo! É muito fácil não mudar, permanecer na mesmice, ser para sempre a menininha indefesa que depende de tudo e de todos para tudo, ou a perva maluca descabeçada que não precisa se preocupar com as responsabilidades. Da mesma forma é fácil ser para sempre o garanhão da turma, o "catador", cada dia com uma mulher diferente, sem ter que se preocupar com responsabilidades ou com se dedicar emocionalmente a alguém, ou ser o bobão solteirão sempre em busca da mulher perfeita que não existe e postergar infinitamente a vida adulta!
Se você continuar sendo exatamente como é hoje, daqui a 20 anos, você estará satisfeito com isso? Você estará completo(a) emocionalmente, profissionalmente, fisicamente? Você terá saúde? Terá companhia? Estará feliz?
O medo de se entregar a um futuro desconhecido é terrível, mas superar esse medo, ser capaz de largar o nosso mundinho conhecido e se aventurar em escolhas que podem nos levar à glória ou à derrota, é uma sensação fantástica de poder, de capacidade de ir além, de poder fazer qualquer coisa que sonharmos, porque até mesmo nas derrotas nós aprendemos lições que nos levam aos caminhos corretos depois. Toda escolha é uma renúncia. Mas nem sempre renunciar é ruim. Abrir mão de uma vida que não te faz sentir como se estivesse andando para frente certamente é muito bom. E por mais incerto que seja o outro caminho possível, certamente é melhor do que ficar estagnado! Aproveitar a vida, o tempo que temos aqui para curtir essa existência e se vamos fazer dela uma aventura cheia de vitórias, felicidade e superações ou se faremos dela um grande martírio, um sofrimento sem fim, é uma escolha que cabe a cada um de nós. Tem um trecho de um livro do Amyr Klink que eu acho fantástico e se encaixa perfeitamente e isso tudo:
"Dias inteiros de calmaria, noites de ardentia, dedos no leme e olhos no horizonte, descobri a alegria de transformar distâncias em tempo. Um tempo em que aprendi a entender as coisas do mar, a conversar com as grandes ondas e não discutir com o mau tempo. A transformar o medo em respeito, e o respeito em confiança. Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer." (Amyr Klink, CEM DIAS ENTRE O CÉU E O MAR)
Aproveitar o tempo que temos nessa vida tem menos a ver com as besteiras que os jovens erroneamente acreditam ser o tal "curtir a vida" ou "curtir a juventude" e mais a ver com saborear as delícias de cada fase. Todas as épocas da vida são importantes e todo crescimento é igualmente importante. Para ser feliz não é preciso ser um jovenzinho virtuoso para sempre. A felicidade está na simplicidade de deixar a vida mostrar as encruzilhadas e a partir delas fazermos nossas escolhas. Ser livre é poder escolher seus novos caminhos e não ficar aprisionado no conceito estúpido que associa juventude com liberdade.
Hoje, se eu morresse não teria arrependimentos, estaria satisfeita com o que fiz até aqui. Se eu soubesse que vou morrer amanhã, abraçaria meus pais hoje, passaria a noite namorando e veria o sol nascer junto com o meu namorado e no restante do tempo comeria um chocolate muito caro, um queijo delicioso, um vinho especial e deixaria para ter dor de barriga lá do outro lado! (risos) E se eu continuar a evolução da minha vida do jeito que estou levando, tenho certeza que daqui a 20 anos eu serei uma quase cinquentona muito feliz e satisfeita com a minha vida, com o meu namorado fantástico, com a minha família incrível e com saúde, equilibrada física, espiritual, mental, emocional e profissionalmente. Envelhecer é uma delícia, mas eu vou continuar usando o hidratante anti-aging! (risos).