sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"Crítica Viciosa"

Acho interessante a fixação que as pessoas têm pela imagem que passam de si. A maioria esconde uma parcela recalcada no recanto mais obscuro de si, na qual está claramente uma grande vontade de ser, mesmo que por míseros segundos em suas vidas, um pouquinho como aquelas pessoas que elas criticam.

Não sei se isso é o que chamam de inveja... Na verdade, acho que não. O fato é que existe uma fixação por ser uma pessoa mais madura, em ter um corpo bonito, em ser inteligente, em ser bem sucedido profissionalmente, em ter um grande amor e ser correspondido, em ficar rico, em ser uma pessoa bondosa, em ser politicamente engajado, em ser politicamente correto, em ser moderno, mas ao mesmo tempo gostar dos clássicos, em ser audacioso, mas ao mesmo tempo responsável e cauteloso.

Mas se a pessoa é feliz do jeito que é, quem tem o direito de criticar a felicidade?!?!

Vejo tantas moças criticando as "piriguetes", mas que atire a primeira pedra a moça que nunca foi pelo menos um pouquinho "piriguete" ou que não quis ser, mesmo que fosse só por alguns instantes, só pra ter coragem de se insinuar para AQUELE carinha lindo, ou só mesmo para saber como é? Toda mulher tem uma "piriguete" dentro de si. Algumas mulheres escancaram logo, outras vivem isso como uma fase da vida e outras reprimem isso e passam a criticar as outras.

Da mesma forma, tantas pessoas falando da infantilidade alheia. E daí?! Se a pessoa tem tendência infantis? Mas ela está prejudicando alguém por isso? Está deixando de cumprir com suas responsabilidades? Se estiver causando problemas para essa pessoa ou para quem está em volta, concordo que talvez precise de ajustes, mas caso contrário, que mal há em vestir-se com roupas que lembrem roupas infantis, ou colecionar brinquedos, ou falar esquisitinho?

E tanta gente preocupada com o que os outros postam! (risos) Sério! Se não te interessa, não leia, bloqueie a pessoa ou pule o post para o próximo, ou em último caso, pare de utilizar redes sociais, de ver blogs e fóruns... Se a pessoa quer postar fotos de comida, deixe postar, de repente você até encontra alguma boa receita para pedir. Se a pessoa quer postar mensagens de auto-ajuda, aproveite para repensar algumas coisas da sua vida, ou simplesmente não leia! Se a pessoa quer postar milhares de mensagens melosas sobre o quanto está apaixonada, se isso te incomoda, arranje um namorado(a) ou simplesmente pare de ler! Se ver as fotos das viagens dos seus conhecidos te causa algum tipo de aversão, minha sugestão é que comece a viajar também ou que não perca seu tempo vendo fotos de outros.

Realmente não sei o motivo de querer se passar por uma pessoa virtuosa, discreta, responsável, madura, inteligente,  bem sucedida, engraçada, bla bla bla... através da crítica aos outros. Até porquê, estamos todos no mesmo barco, uma vez que tomamos a decisão de nos expormos na internet, seja em sites pessoais, em redes sociais, em blogs, em fóruns ou no que quer que seja, estamos tomando como princípio que o que nós postamos é sempre algo muito bom e interessante e daí, como podemos criticar os posts alheios, se eles também estão postando o que acham interessante ou importante de ser compartilhado, talvez essas pessoas também nos achem chatos, pedantes ou exibicionistas?!?!

Acho que internet, no geral, pode ser uma boa fonte de informações, se soubermos triar as que forem realmente relevantes; mas acho também que isso aqui é lazer, é o momento "mamãe estou na mídia" de cada um e, certamente, seria muito mais agradável, se as pessoas soubessem respeitar as opiniões alheias, as culturas alheias e aprendessem a ser menos estressadas e simplesmente ignorassem aquilo que não lhes interessa...

Mas... é só a minha opinião... e com certeza muita gente vai discordar! (risos) E eu mesma estou aqui criticando quem critica... (risos) Melhor parar por aqui porque isso é um círculo vicioso... E depois desse post, vou respeitar quem quiser criticar as outras pessoas, simplesmente deixando de ler o que os tais críticos andam postando!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Excessos

"Excesso de amor mata!"
"Excesso de felicidade irrita"
"Excesso de inteligência chateia"
"Excesso de paciência gera aproveitadores"
"Excesso de stress dá gastrite - no mínimo!"
"Excesso de comida gera obesidade - também, no mínimo!"
"Excesso de fome dá fraqueza"
"Excesso de riqueza gera desigualdade social"
"Excesso de ambição resulta em pessoas tristes e ricas"
"Excesso de conformismo acaba em si"
"Excesso de sonhos gera infelicidade"
"Excesso de realidade termina em depressão"
"Excesso de motivação resulta em decepção"
"Excesso de energia acaba em cansaço"
"Excesso de atenção enjoa"
"Excesso de carência afasta"
"Excesso de conhecimento gera dúvidas"
"Excesso de informação atrapalha"
"Excesso de vazio desanima"
"Excesso de educação constrange"
"Excesso de rudez revolta"
"Excesso de pobreza alimenta a violência"
"Excesso de saudade dói no peito"
"Excesso de coisas ocupa espaço e é burrice"
"Excesso de saúde gera gente neurótica"
"Excesso de amigos causa inveja"
"Excesso de inveja leva à frustração"
"Excesso de tristezas adoece"
"Excesso de conquistas cega"
"Excesso de derrotas desmotiva"
"Excesso de álcool prejudica"
"Excesso de injustiças geram descrença"
"Excesso de justiça não existe"
"Excesso de trabalho gera falta de tempo"
"Excesso de falta de tempo resulta em pessoas que sobrevivem - não as que vivem!"
"Excesso de pensamentos causa insônia"
"Excesso de não-pensar gera vazios"
"Excesso de paz cansa"
"Excesso de violência demonstra falta de pensar"
"Excesso de praticidade deixa a vida sem graça"
"Excesso de complexidade atrasa"
"Excesso de responsabilidade não diverte"
"Excesso de diversão aliena"
"Excesso de foco se chama hiperfoco e é característica de DDA - Disturbio de Déficit de Atenção"
"Excesso de desatenção torna improdutivo"
"Excesso de produtividade tende ao excesso de não ter o que fazer"
"Excesso de esperteza tende à corrupção"
"Excesso de excessos desequilibra"

Mas o equilíbrio traz a sensação de completude, que por sua vez traz paz e felicidade e, que normalmente vem como consequência de muito amor, respeito, compreensão... Então o equilíbrio e o desequilíbrio vêm juntos, equilibrados numa balança que hora pende para um lado e hora para o outro. Seriam os excessos parte do equilíbrio embora sejam seu oposto?

E afinal o que é o "sim" sem o "não"? Ou o que é o "muito" sem o "pouco"?

Antagônicos e complementares...

O equilíbrio só é alcançado com o desequilíbrio que alterna os lados. E o desequilíbrio vem do excesso de excessos, que quebram o equilíbrio e o tornam possível.

Interessante esse tal de equilíbrio, né?!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amigos, veleiros, solidão e metáforas bobas

Dias atrás, fui a uma entrevista de emprego. 

A psicóloga perguntou-me: 
- "Qual seu maior sonho?"

Eu respondi prontamente: 
- "Sair velejando pelo mundo no meu veleiro com o meu marido até ficarmos bem velhinhos". 

E ela fez uma careta, disse: 
- "Que diferente! E você não acha que isso é muito arriscado, muito perigoso?"

Eu rebati:
- "Mas o que é a vida sem riscos? Estar vivo é correr riscos. Se eu não me arriscar nunca, se viver sempre na minha zona de conforto, é o mesmo que não viver. Não estou me referindo a ser imprudente, pois tudo deve ser planejado..."

Ela me olhou com uma careta diferente e falou:
- "Mas só você e o seu marido? E filhos?"

Eu ri e respondi sem pestanejar:
- "Não queremos. Não planejamos ter filhos. Se algum dia acontecer, pretendemos ser os melhores pais do mundo, mas garanto que faremos todo o possível para nunca acontecer"

Ela fez a careta de novo e disse:
- "Mas é uma vida muito solitária! E os amigos, então?! E a família?!"

A essa altura da entrevista, achei que a mulher me jogaria pela janela e me chamaria de subversiva! (risos). Mas eu logo respondi para ela que amigos são família que a gente escolhe e que, sendo família, são nosso porto seguro. Mesmo com a distância, mesmo com o passar do tempo, mesmo que todos estejam sem tempo e morando a quilômetros de distância, nada muda, continuamos fiéis uns aos outros, continuamos leais, continuamos torcendo uns pelos outros, continuamos desejando o que há de melhor uns para os outros e nos momentos difícies, atravessamos todas as barreiras para de alguma forma confortarmos ou pelo menos dizermos "Ei, estou aqui! Se precisar de mim é só falar...".

Não sei se fui radical demais para os padrões da moça e por isso não consegui o emprego. Mas acredito que todo relacionamento deve ser baseado em honestidade, em verdade, inclusive de emprego. E eu fui muito sincera com ela.

Mas essa história da entrevista foi só para ilustrar, porque a verdade é que essa psicóloga que me entrevistou, não conseguiu até o final entender que não há nada de solitário em seguir suas convicções e seu próprio caminho. Utilizando a metáfora do mar, mesmo que você navegue sozinho ao redor do mundo, carrega sempre no seu coração e no seu  pensamento as pessoas que você ama, mesmo que algum problema técnico te impeça de entrar em contato com essas pessoas por muito tempo, sempre existirá um fio de comunicação imaterial que une as pessoas que se gostam através do pensamento e dos sentimentos e, sempre que você aportar vai poder encontrar com as pessoas importantes e, acredite, elas sempre estarão te esperando no porto. Mesmo que você não consiga avisá-las da sua chegada, elas saberão intuitivamente quando você estiver precisando delas e irão ao seu encontro.

Fora da metáfora, mas ainda falando sobre navegar, posso garantir que não há nada de solitário mesmo nisso. Se eu for pensar na quantidade de pessoas maravilhosas que eu e o namorido encontramos no nosso caminho, nesse meio da vela, pessoas incríveis, verdadeiras, aquelas pessoas que têm uma energia tão boa que mesmo antes de conhecê-las bem você sente que são seus velhos amigos. Pessoas prestativas, pessoas com uma espiritualidade totalmente diferente do que encontramos no dia-a-dia no meio da correria e do stress da vida "normal".

Mas, de volta à metáfora, meus AMIGOS, aqueles que sabem que são especiais para mim, aqueles que sabem que são FAMÍLIA para mim e, a minha FAMÍLIA que foram os meus primeiros AMIGOS, acreditem, eu sempre carrego vocês no coração e em pensamento em cada uma das minhas velejadas, sejam as velejadas solo ou aquelas em que carrego de verdade alguns de vocês no mesmo barco! Eu nunca me sinto só e espero que vocês também nunca se sintam sós, porque de alguma forma estou sempre pertinho de cada um. E, novamente, saindo da metáfora, espero ter ainda muitos de vocês no mesmo barco que eu, velejando juntos, de verdade, compartilhando um pouco desse mundinho mágico que flutua!

E cada um de vocês, pessoas especiais na minha vida, seguem seus próprios rumos, muitas vezes nos afastamos, mas eu aprendi que a melhor parte da distância, do isolamento (notem que eu disse ISOLAMENTO e não SOLIDÃO!) é a saudade! Porque sempre que partimos numa jornada, o retorno ao "lar" é sempre delicioso, o reencontro com os que amamos, colocar as novidades em dia, compartilhar nossos progressos, nosso amadurecimento, nossas alegrias e tristezas... 

Ressaltei a diferença entre ISOLAMENTO e SOLIDÃO, porque para mim, o ISOLAMENTO tem a ver com a necessidade que temos de seguir por nós mesmos, sozinhos, nossos caminhos, fazer escolhas, nos arriscar, crescer, sonhar, conquistar. Essa é a aventura da vida e pode acontecer enquanto estamos cercados de pessoas ou quando estamos realmente sós. Já a SOLIDÃO tem a ver com o sentimento de não pertencer a lugar algum, de não carregar consigo os amigos no pensamento nem no coração e de não ser carregado por eles; a SOLIDÃO é a tristeza daqueles que mesmo cercados de pessoas e de pseudo-amigos, sabem bem lá no fundo, que são relações superficiais e que numa necessidade não poderão contar com esses. De volta à metáfora: ISOLAMENTO é a busca individual pelo seu crescimento, mas sempre com aquele sentimento bom de saber que quando retornar ao seu porto, aqueles que são especiais em nossas vidas estarão lá; SOLIDÃO é como estar num barco com vários "amigos" que se divertem e aproveitam aquele momento com você, mas que no momento da tempestade, se lançarão em outras direções, procurarão um lugar seguro no porto mais próximo e te deixarão para que se salve por si mesmo e, quando você chegar no porto, não haverá ninguém para te receber, para te dar roupas secas e um chocolate quente.

Então FELIZ DIA DO AMIGO, a todos esses seres tão especiais na minha vida! (risos) E felizes, porque mesmo seguindo nossos rumos isoladamente, nunca saberemos o que é a solidão, afinal sabemos que podemos esperar uns pelos outros no porto e, se algum de vocês precisar de um resgate em alto mar, eu alugo um helicóptero para ir resgatar! (mas não sei pilotar helicóptero, então talvez seja um resgate um pouco atrapalhado!! risos). Mas tudo bem, né?! Vocês já estão acostumados com esse meu jeito desajeitado! (risos) E desse mesmo jeito atrapalhado, amo todos vocês.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Janelas da alma

O dia hoje amanheceu muito bonito. Céu cinza! Adoro céu cinza! Pena estar enclausurada na minha prisão urbana, porque dias assim rendem maravilhosas caminhadas na praia.

Levantei cedo, lavei a louça do jantar de ontem, que ainda estava na pia. Hoje ainda mais cedo, o namorido levantou, se arrumou e foi trabalhar. Coitado! Emenda de feriado, mas a empresa onde ele trabalha nunca emenda nada...

Depois de cuidar da louça do jantar, passei um café bem forte, peguei a minha tigelinha cheia de leite bem quentinho com granola light de maçã (hummmmm... está fantástica!!!). Sentei na frente do computador e comecei a rotina diária de verificar e-mails. E já começo o dia rindo! Vagas de emprego: ajudante de mecânico! Hein?! Esses sites de empregos são mesmo uma piada, é cada vaga que me aparece, que por vezes já tive vontade de xingar, de gritar, de arremessar o computador na parede e de chorar, mas hoje eu simplesmente dou risada! No primeiro dia que entrei em cada um desses sites, passei horas com aquela chateação de preencher cadastro, muitas vezes o site tinha algum pirepaque e eu tinha que recomeçar a escrever, assinalar etc. etc. e no final das contas, diariamente aparecem vagas que não têm absolutamente nada a ver com o perfil que solicitei o monitoramento. Eu poderia ficar muito brava, muito chateada e estressada, mas acho que pior ainda é para o ser humano que fez a programação daquele site, cujos filtros simplesmente não funcionam! (risos)

Depois fui dar uma olhadinha no que as pessoas estão fazendo, ou seja, xeretada básica no facebook. Mensagens de deus, mensagens sobre cachorros, mensagens sobre finais de semana fenomenais, mensagens sobre futebol, mas o que me espanta é a quantidade me mensagens pessimistas, depressivas ou de tentativa de auto-afirmação. Tantas pessoas infelizes, frustradas e algumas que são só reclamonas e ranzinzas mesmo!

Outro dia li em uma daquelas mensagenzinhas de facebook, com fotinhos bonitas e tals, estava escrito assim: "Felicidade não é um objetivo de vida, mas sim, um caminho que escolhemos para viver". E esse foi um daqueles momentos raros em que alguma coisa no facebook realmente prende a nossa atenção, porque faz todo o sentido em nossas vidas. A verdade é bem essa mesmo, já há muito tempo, aprendi que a gente não deve passar a vida toda correndo atrás da felicidade, devemos é viver intensamente com a companhia dela. E na mesma semana uma outra mensagenzinha de facebook me marcou, ela dizia: "A vida não é sobre esperar a tempestade passar, mas de aprender a dançar na chuva".

Algumas pessoas que se consideram grandes sofredoras, só conseguem ver seu próprio sofrimento e não notam que ao redor existem pessoas com sofrimentos imensos também, mas que não se deixam abater. Não estou aqui pra falar do quanto eu já sofri ou de cada um dos problemas que já enfrentei na minha vida, mas posso dizer que de tanto chorar, minhas lágrimas secaram, de tanto ficar triste, eu cansei. E hoje prefiro sorrir e ser feliz, que me desgastam menos e me tornam uma pessoa melhor para conviver, tanto para os que estão à minha volta, quanto para mim mesma. Sim, porque por vezes, nem eu mesma me aturava!

Quando comecei a escrever esse post, estava tomando meu café, olhando pela janela do apartamento, observando as coisas que me fazem feliz: o céu cinza, a chuva caindo, o Parque do Estado todo verdinho, os aviões decolando desafiando o bom senso e provando que a física é mesmo linda! Eu estava observando, pensando sobre as pessoas que reclamam tanto ou que escrevem aquelas mensagens ou textos que visivelmente são uma forma de tentarem convencer a si mesmas de que a vida vai melhorar ou de que ela nem é tão ruim... E, para ser sincera, eu estava esperando era a chuva diminuir umpouco para eu poder sair e resolver algumas coisas que preciso fazer na rua. Depois de escrever aquela frase sobre a vida, de não esperar a tempestade passar, mas aprender a dançar na chuva, percebi que eu poderia só terminar de escrever esse post, para que algumas das pessoas que andam tão pessimistas, pudessem ler e então eu já poderia sair, independente da chuva ter diminuído ou não, afinal, a vida não é sobre isso, né?! (risos) Mas enquanto eu escrevia, a chuva parou! (risos)

Então eu espero que a carapuça sirva em quem tiver que servir... E gostaria que essas pessoas entendessem que a vida sem sofrimentos e obstáculos, seria muito chata! A gente precisa de um pouco de aventura, de um pouco de emoção e, com certeza, todas as conquistas são mais doces quando o sacrifício para alcança-las é grande.

O que tenho pra dizer é que não viemos a essa vida para sofrer, viemos para sermos felizes, então pare de se lamentar pelos problemas, preste atenção no que há de bom ao seu redor, sorria e a vida sorrirá de volta. Aprenda a encontrar a felicidade em cada segundo da sua vida, seja ela como for, ao invés de olhar a felicidade dos outros e querer para si. Encontre a sua própria felicidade, ela está à sua volta, você é que está deixando de ver porque faz os seus problemas parecerem tão grandes que eles encobrem a felicidade. Ela está lá, bem ali, escondidinha atrás daquele problema que você pensa que não tem solução.

Mas não posso culpar ninguém por escrever sobre tristeza e sofrimento, porque, em geral, escrevemos sobre aquilo que estamos vivendo. Por isso eu escrevo sobre a felicidade. Espero que daqui a alguns dias, quando entrar no facebook, existam mais textos e mensagens sobre felicidade, amor, paz e alegria do que sobre sofrimento, tristeza, decepção e falta de esperança. Afinal nossos textos são as janelas das nossas almas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Águas passadas

Era tarde de um domingo, passava pouco do horário do almoço. A brisa era leve, de fato, pouco mais do que 8 nós de vento faziam o veleiro movimentar-se lentamente.

Ele estava sentado, olhos no horizonte, no bordo de boreste da embarcação. Ela estava no bordo de bombordo, mão direito na roda de leme, observando o movimento das ondulações do mar que ia e vinha devido à proximidade das rochas no lado leste de Ilhabela, rumando sul para completar a volta.




O que poderia ter sido uma tarde comum de domingo, tratava-se na realidade de uma experiência espiritual. Sim, porque a cada nova empreitada com velas ao vento, nos borrifos salgados que iluminam os rostos daqueles que amam o mar, há sempre uma experiência espiritual.

Ele tentava compreender se aquela sensação se devia a todo aquele contato com a natureza: o vento, o mar, o sol, a exuberância daquela região tão pouco explorada de Ilhabela, as aves marinhas, tartarugas que cruzam o caminho...

Ela prestava atenção nas nuvens cinzentas que se formavam no horizonte: "Deve estar chovendo forte em Santos". Respingos salgados tiraram sua atenção daquele pensamento, aquelas gotículas salgadas no rosto traziam a lembrança de tempos passados, da infância naquele mesmo mar, pouco mais a oeste, no Canal de São Sebastião, na praia de São Francisco, sentada na areia, brincando na água do mar, junto de seu melhor amigo, o irmão sete anos mais velho, outro apaixonado por aquele mundo de água de salgada.

Ele é caiçara, nascido em Alagoas, passou os primeiros anos de vida na bela praia de Paripueira, um peixinho de água salgada desde o nascimento.

Ela, apesar de nascida em ambienta mais urbano, teve na infância o contato com a natureza que toda criança deveria ter. Aos 6 meses de vida foi a primeira vez que ela entrou no mar, naquelas águas mansas de São Francisco.

Paripueira significa "águas mansas" em tupi, engraçado como antes mesmo que eles se conhecessem, a vida no mar já os aproximava.

Ele em Alagoas, ela em São Paulo, quem poderia imaginar que um dia seus destinos se cruzariam? Quem poderia dizer que estaríam, literalmente, no mesmo barco, algum dia?

Ela tinha no irmão, o exemplo, a amizade, o conforto, o suporte para a vida... Mas a vida às vezes é irônica. Um infarto fulminante, levou desse mundo, aos 28 anos de idade, o irmão-amigo. Ela viu seu mundo cair, mas a ironia da vida trouxe naquele momento, o homem de sua vida, com todo o suporte que ela precisou naquele dias nebulosos, com muito amor, respeito e admiração pela força que ela demonstrou ter para superar tudo aquilo.

Ele é o amor da vida dela, o homem que entrou na vida dela no momento certo e trouxe de volta a magia do mar. E ela foi quem o apresentou àquele paraíso na terra, foi ela, ainda com o irmão junto que o levaram para aquele que o casal passou a chamar de "o mar do coração" ou o "mar doce lar" deles.

E nesta tarde de domingo, o casal está no veleiro, vento de sul, agora já uns 14 nós, a contra-vento, seguindo, rumo à volta completa em Ilhabela, com um pôr-do-sol estonteante e uma tempestade linda e tenebrosa se aproximando. E os respingos salgados que trouxeram as belas lembranças, são águas passadas, bem como toda aquela vida que já passou. Diz a sabedoria popular que águas passadas não movem moinhos, mas para Ela, ali, sentada a bombordo do homem que ama, águas passadas movem mais do que moinhos, movem veleiros, movem sonhos, movem vidas, movem histórias, movem destinos.

O belo Cabo Horn 35 que os levava nessa magnífica jornada espiritual, de lembranças e aprendizados, de planos para o futuro e sonhos a serem alcançados, é uma metáfora materializada do que é a vida. Juntos, no mesmo barco, com passados diferentes, pois o que cada um viveu dentro da mente até aquele ponto é pessoal e intocável, mas estavam sempre de alguma forma ligados por uma paixão: o mar. E naquele magnífico pôr-do-sol, de repente seus corações e pensamentos se cruzaram, tantas aventuras juntos, agora ainda embarcados nessa vida a dois, com sonhos, objetivos e planos em comum.

ELA sou eu! E a minha vida vem em rajadas fortes e assustadoras, cheias de respingos de água salgada cheios de lembranças e aprendizados, sempre lavando a minha alma com água salgada, me renovando e revitalizando para os novos caminhos que as próximas velejadas mostrarão à minha frente.

Velejar é sempre uma experiência espiritual que nos coloca em contato direto com a natureza e nos deixa tão dependentes dos fatores externos, que nos ensina sempre a humildade de saber que não temos controle sobre tudo, que nos ensina a necessidade de sermos flexíveis e nos aproxima tanto do mundo espiritual que é quase sempre possível vislumbrar nos lugares mais improváveis um pouco daquilo que nossas almas refletem para mostrar o caminho para a realização dos nossos sonhos mais profundos.