No começo o Eddie levava muita bronca por causa disso. A minha mãe tomava essa atitude dele como uma afronta pessoal. No entanto, certa vez, notamos que logo depois de comer a planta, ele correu para a varandinha que dava acesso à porta da frente da casa (e que costumava ficar fechada, pois quando estávamos somente entre as pessoas da casa, usávamos somente a porta dos fundos para não sujar muito a casa, porque a minha mãe é meio neurótica com limpeza!) e ele ficava lá sentado, quietinho e toda vez que ele via alguém se aproximar, ele começava a tremer e dar uma das patinhas. Achamos bem engraçado, pois com o tempo descobrimos que aquele era o jeito de ele mesmo se colocar de castigo naquele lugar (ele não saía de lá até a gente chamar) e dar a patinha era a forma de pedir desculpas, porque ele sabia que tinha feito algo errado, comendo a plantinha da "mamãe", mas o faz mesmo assim, devido a uma necessidade muito grande de comer aquela planta.
Mudamos de casa, mas até hoje o Eddie faz visitas aos vasos, eventualmente, e depois fica pedindo desculpas pra minha mãe, dando as patinhas pra ela. Mas o que leva o cachorro a fazer algo que ele sabe que é errado, para depois ficar pedindo desculpas? Talvez seja a mesma coisa que nos faz (nós, seres humanos, que nos gabamos tanto das nossas capacidades intelectuais) agir de forma considerada errada, sabendo que não é certo, mas motivados por uma necessidade particular que nos parece muito mais urgente.
O Eddie provavelmente usa as plantinhas para se sentir melhor depois de comer algo que não o fez sentir-se muito bem. E nós, eventualmente, agimos de forma errada, por considerarmos que nossas necessidades são sempre mais urgentes ou maiores do que as dos outros.
Outro dia li um artigo de uma Relações Públicas que trabalha na área ambiental, dizendo que a questão da educação ambiental é muito complicada no Brasil, pois o brasileiro costuma colocar suas necessidades acima das suas convicções. Por exemplo: 17h, o ônibus passa 17h05, o funcionário que ficou por último precisa levar determinado material para descarte adequado em outra seção, mas se o fizer perderá o ônibus de 17h05, terá de esperar o de 18h e já prevê a briga com a esposa por causa do atraso para o jantar, nesse caso, para evitar o atrito no relacionamento e para a própria comodidade, descarta o material em outro local, mais perto, também para resíduos, mas não para aquele tipo específico que ele está descartando e pensa que só dessa vez não será problema. Em outras palavras, o funcionário do exemplo prefere deixar a educação ambiental de lado e dar preferência a não se indispor com a esposa.
Concordo em partes com a autora do artigo, na verdade, discordo da afirmação de serem os brasileiros apontados como os únicos que colocam suas necessidades acima de suas convicções. Acredito que isso seja uma atitude natural, dos animais, de forma geral, incluindo o homem.
Para que a questão ambiental, por exemplo, pudesse ser levada mais a sério, seria necessário transformá-la em uma necessidade da base da pirâmide (lembram de Maslow? - risos).
Mas voltando ao foco do post. É fato que às vezes nós vemos na TV ou lemos nos jornais notícias de pessoas que colocam as próprias vidas em risco para salvar outras, vemos atitudes que são realmente heróicas e que nos fazem pensar se nós seríamos capazes de um feito semelhante. Por outro lado, também já foram relatados casos de cadelas que adotaram gatinhos orfãos ou de uma tigresa que adotou cachorrinhos orfãos e animais que se sacrificaram para salvar seus donos e etc.
Afinal, somos todos iguais? Não tinha uma história de que nós, seres humanos, nos destacamos por termos o polegar opositor e o encéfalo desenvolvido?! Então nós não deveríamos agir pela razão em vez de nos deixarmos levar pelos instintos?
Pensando nos instintos como uma reação natural a uma necessidade urgente.
Lógico que é difícil pensar na paz mundial, nas mudanças climáticas e na fome no mundo, quando batemos o dedinho mindinho do pé na quina de um móvel! (risos) Mas não seria nada mal se em outras situações sobre as quais tivéssemos mais controle, pudéssemos pensar primeiro nos nossos deveres e responsabilidades.
Uma vez o meu namorido disse que se as pessoas falassem menos em direitos e mais em deveres, o mundo seria melhor.
Agree!!!!
\o/
Todo mundo quer ter direitos, mas ninguém gosta de ter deveres. Mas se cada pessoa, ao invés de reclamar seus direitos, cumprisse com seus deveres, naturalmente todos os direitos estariam assegurados...
Mas só de falar em deveres e responsabilidades, em compromissos e obrigações, tem gente que já se arrepia! Outros tantos só de ver o caminho que estou tomando nesse texto, acabaram de sair da página sem nem ao menos me dar a chance de concluir alguma coisa aqui. Mas eu acho que pode ser um problema de nomenclatura!
Sabe quando vamos participar de um processo seletivo e daí o aplicador das dinâmicas de grupo pergunta: "Quais são suas maiores qualidades e quais são os aspectos que você precisa melhorar?". Pronto! É isso, a mesma coisa... Seria tão mais fácil perguntar: "Quais suas qualidades e quais os seus defeitos?". Mas ninguém ia querer responder defeitos, né?! Ou quando alguém diz: "Sua mãe é fofinha, né?!", dá vontade de responder: "é, ela é gorda, mas é genético, já viu meus pneus?". Diga-se de passagem, pneu está aí pra não dizer "banha", né?! (risos).
Tá, esse último parágrafo está aí só pra ilustrar como no dia-a-dia a gente acaba fazendo umas adaptações de nomenclatura, só pra não assustar muito aqueles de coração mais fraco! (risos)
Então e se em vez de falar em "obrigações", "responsabilidades", "deveres", "compromissos", falássemos em "liberdade" de escolher fazer a coisa certa; "ética" para agir na vida pessoal e profissional, "poder" de transformar o mundo; "habilidade" de ser um bom exemplo e influenciar pessoas... Deu pra notar que estou falando da mesma coisa, só que estou fazendo parecer muito mais legal agora?
As pessoas gostam de sentir que elas estão no controle e que é uma opção delas mesmas e não um dever imposto ou uma obrigação moral o que as leva a agir. Essa pequena mudança de nomenclatura, o jeitinho de falar as coisas, faz toda a diferença, massageia o ego do cidadão. (risos)
OK, eu sei que o ego e o sentimento de realização estão lá no topo da pirâmide (lá vou eu com o Maslow de novo!! - risos), mas o Maslow e os outros teóricos da administração que trataram desse assunto das necessidades que me desculpem, o fato é que não é difícil encontrarmos pessoas que colocam o ego, a realização pessoal e profissional, a sua auto-imagem, como necessidades mais importantes até do que as tais necessidades básicas/ fisiológicas: comer, dormir, respirar...
Então, da próxima vez que quiser bancar o "esperto", atravessando a rua a 2 metros da faixa de pedestre; quando por preguiça de ir até a lixeira que fica a 5 metros de você, jogar o lixo no chão mesmo; quando deixar o cachorro fazer cocô na rua e fizer de conta que não viu; quando estacionar o carro na vaga de deficiente ou de idoso (sem estar nessas categorias); ou quando fingir que está dormindo no transporte público lotado só para não dar lugar a idosos, grávidas e deficientes que acabaram de embarcar; lembre-se: você não é um cachorro! Você pode escolher tomar a atitude certa. O seu poder de decisão é mais evoluído que o dos outros animais, você não precisa colocar a sua necessidade como algo maior do que as necessidades dos outros. Você não precisa ser egoísta, você é um ser dotado de inteligência suficiente para tomar as decisões corretas. E olha, que como eu já disse antes, às vezes até mesmo os outros animais nos surpreendem com atitudes altruístas.
E antes que você pense coisas como "todo mundo faz isso, então eu também posso" ou "eu não sabia que isso era errado", eu só gostaria de comentar que agir de determinada maneira porque "todo mundo" age assim, é coisa de gente com capacidade intelectual menor do que a de um hamster (o Murphy, meu falecido hamster, pelo menos agia por vontade própria e não porque copiava as ações dos outros!); e não saber que certas atitudes são erradas faz de você um ser menos consciente do que o meu cachorro, porque o Eddie pelo menos aprendeu a pedir desculpas!
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