sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amigos, veleiros, solidão e metáforas bobas

Dias atrás, fui a uma entrevista de emprego. 

A psicóloga perguntou-me: 
- "Qual seu maior sonho?"

Eu respondi prontamente: 
- "Sair velejando pelo mundo no meu veleiro com o meu marido até ficarmos bem velhinhos". 

E ela fez uma careta, disse: 
- "Que diferente! E você não acha que isso é muito arriscado, muito perigoso?"

Eu rebati:
- "Mas o que é a vida sem riscos? Estar vivo é correr riscos. Se eu não me arriscar nunca, se viver sempre na minha zona de conforto, é o mesmo que não viver. Não estou me referindo a ser imprudente, pois tudo deve ser planejado..."

Ela me olhou com uma careta diferente e falou:
- "Mas só você e o seu marido? E filhos?"

Eu ri e respondi sem pestanejar:
- "Não queremos. Não planejamos ter filhos. Se algum dia acontecer, pretendemos ser os melhores pais do mundo, mas garanto que faremos todo o possível para nunca acontecer"

Ela fez a careta de novo e disse:
- "Mas é uma vida muito solitária! E os amigos, então?! E a família?!"

A essa altura da entrevista, achei que a mulher me jogaria pela janela e me chamaria de subversiva! (risos). Mas eu logo respondi para ela que amigos são família que a gente escolhe e que, sendo família, são nosso porto seguro. Mesmo com a distância, mesmo com o passar do tempo, mesmo que todos estejam sem tempo e morando a quilômetros de distância, nada muda, continuamos fiéis uns aos outros, continuamos leais, continuamos torcendo uns pelos outros, continuamos desejando o que há de melhor uns para os outros e nos momentos difícies, atravessamos todas as barreiras para de alguma forma confortarmos ou pelo menos dizermos "Ei, estou aqui! Se precisar de mim é só falar...".

Não sei se fui radical demais para os padrões da moça e por isso não consegui o emprego. Mas acredito que todo relacionamento deve ser baseado em honestidade, em verdade, inclusive de emprego. E eu fui muito sincera com ela.

Mas essa história da entrevista foi só para ilustrar, porque a verdade é que essa psicóloga que me entrevistou, não conseguiu até o final entender que não há nada de solitário em seguir suas convicções e seu próprio caminho. Utilizando a metáfora do mar, mesmo que você navegue sozinho ao redor do mundo, carrega sempre no seu coração e no seu  pensamento as pessoas que você ama, mesmo que algum problema técnico te impeça de entrar em contato com essas pessoas por muito tempo, sempre existirá um fio de comunicação imaterial que une as pessoas que se gostam através do pensamento e dos sentimentos e, sempre que você aportar vai poder encontrar com as pessoas importantes e, acredite, elas sempre estarão te esperando no porto. Mesmo que você não consiga avisá-las da sua chegada, elas saberão intuitivamente quando você estiver precisando delas e irão ao seu encontro.

Fora da metáfora, mas ainda falando sobre navegar, posso garantir que não há nada de solitário mesmo nisso. Se eu for pensar na quantidade de pessoas maravilhosas que eu e o namorido encontramos no nosso caminho, nesse meio da vela, pessoas incríveis, verdadeiras, aquelas pessoas que têm uma energia tão boa que mesmo antes de conhecê-las bem você sente que são seus velhos amigos. Pessoas prestativas, pessoas com uma espiritualidade totalmente diferente do que encontramos no dia-a-dia no meio da correria e do stress da vida "normal".

Mas, de volta à metáfora, meus AMIGOS, aqueles que sabem que são especiais para mim, aqueles que sabem que são FAMÍLIA para mim e, a minha FAMÍLIA que foram os meus primeiros AMIGOS, acreditem, eu sempre carrego vocês no coração e em pensamento em cada uma das minhas velejadas, sejam as velejadas solo ou aquelas em que carrego de verdade alguns de vocês no mesmo barco! Eu nunca me sinto só e espero que vocês também nunca se sintam sós, porque de alguma forma estou sempre pertinho de cada um. E, novamente, saindo da metáfora, espero ter ainda muitos de vocês no mesmo barco que eu, velejando juntos, de verdade, compartilhando um pouco desse mundinho mágico que flutua!

E cada um de vocês, pessoas especiais na minha vida, seguem seus próprios rumos, muitas vezes nos afastamos, mas eu aprendi que a melhor parte da distância, do isolamento (notem que eu disse ISOLAMENTO e não SOLIDÃO!) é a saudade! Porque sempre que partimos numa jornada, o retorno ao "lar" é sempre delicioso, o reencontro com os que amamos, colocar as novidades em dia, compartilhar nossos progressos, nosso amadurecimento, nossas alegrias e tristezas... 

Ressaltei a diferença entre ISOLAMENTO e SOLIDÃO, porque para mim, o ISOLAMENTO tem a ver com a necessidade que temos de seguir por nós mesmos, sozinhos, nossos caminhos, fazer escolhas, nos arriscar, crescer, sonhar, conquistar. Essa é a aventura da vida e pode acontecer enquanto estamos cercados de pessoas ou quando estamos realmente sós. Já a SOLIDÃO tem a ver com o sentimento de não pertencer a lugar algum, de não carregar consigo os amigos no pensamento nem no coração e de não ser carregado por eles; a SOLIDÃO é a tristeza daqueles que mesmo cercados de pessoas e de pseudo-amigos, sabem bem lá no fundo, que são relações superficiais e que numa necessidade não poderão contar com esses. De volta à metáfora: ISOLAMENTO é a busca individual pelo seu crescimento, mas sempre com aquele sentimento bom de saber que quando retornar ao seu porto, aqueles que são especiais em nossas vidas estarão lá; SOLIDÃO é como estar num barco com vários "amigos" que se divertem e aproveitam aquele momento com você, mas que no momento da tempestade, se lançarão em outras direções, procurarão um lugar seguro no porto mais próximo e te deixarão para que se salve por si mesmo e, quando você chegar no porto, não haverá ninguém para te receber, para te dar roupas secas e um chocolate quente.

Então FELIZ DIA DO AMIGO, a todos esses seres tão especiais na minha vida! (risos) E felizes, porque mesmo seguindo nossos rumos isoladamente, nunca saberemos o que é a solidão, afinal sabemos que podemos esperar uns pelos outros no porto e, se algum de vocês precisar de um resgate em alto mar, eu alugo um helicóptero para ir resgatar! (mas não sei pilotar helicóptero, então talvez seja um resgate um pouco atrapalhado!! risos). Mas tudo bem, né?! Vocês já estão acostumados com esse meu jeito desajeitado! (risos) E desse mesmo jeito atrapalhado, amo todos vocês.

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